sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Grafite muda cenário e traz segurança em Guaianases, na zona leste de SP


Desenhos de Tody One afastam violência e unem a comunidade. 'A gente precisa conversar, envolver as pessoas, para mudar a periferia, a cidade, o país', diz o artista
por Isaías Dalle, para a RBA publicado 25/12/2017 12h36, última modificação 26/12/2017 09h05
ISAÍAS DALLE
gigante da escadaria 1.jpg
Gigante da Escadaria é um grafite ao longo de 78 degraus, faixa por faixa, formando um enorme desenho
São Paulo – Numa estreitíssima viela de Guaianazes, na zona leste de São Paulo, um jovem de braço esquerdo erguido, punho cerrado, fica de sentinela ao longo da escadaria. Para quem observa bem, a camiseta dele carrega o símbolo do comunismo, o famoso “foice e martelo”. O sorriso no rosto é franco.
Já querido no bairro, o Gigante da Escadaria é um grafite desenhado ao longo de 78 degraus, faixa por faixa, formando um enorme desenho que pode ser visto a pouca distância, mas que fica mais nítido quanto mais se afasta. Nas paredes laterais da viela, outros grafites compõem o quadro.
O artista que os desenhou é cumprimentado por onde passa. Tody One, João Belmonte de nascimento, é um jovem grafiteiro que decidiu desenhar o Gigante da Escadaria para dar nova vida ao espaço. Ali naquela viela, não muito longe da estação de trem de Guaianazes, já funcionou um ponto de venda de drogas e aconteceram duas chacinas. Assaltos pela manhã, penalizando quem ia cedo ao trabalho, eram comuns.
ISAÍAS DALLEtody one.jpg
Tody One: obras em diferentes partes da cidade, como a estação de trem de Guaianazes e o Instituto Lula
Hoje em dia, apenas um mês depois de concluídos os grafites e o plantio de árvores, a Escadaria da Mirinha – nome dado em homenagem à mais antiga moradora do lugar – não é mais a mesma. Moradores que circulam por ali confirmam que está tudo diferente. Sem conflito, apenas com a participação das pessoas, que ajudaram na varrição que preparou a escadaria para o desenho. Os 14 alunos do Tody One, para quem ele dá aulas de grafite voluntariamente, também participaram do projeto.
“Agora aqui está de boa, tranquilo”, confirma uma moradora que passa e faz questão de posar para uma foto ao lado do artista.
Tody One é o nome que o grafiteiro ganhou em seu batismo na capoeira. O artista tem obras em diferentes partes da cidade. A estação de trem de Guaianazes é um de seus palcos: as colunas do saguão ostentam grafites dele, sendo o Jesus Negro um dos que mais chamam a atenção. A porta principal do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, recebeu os traços do grafiteiro, que cobriu as marcas de um atentado que ocorreu numa madrugada de julho de 2015.
Outra de suas intervenções em Guaianazes, bairro onde nasceu e mora, é a criação do Griot Urbano, pequeno ateliê onde pinta, administra uma incipiente biblioteca circulante, provê alimentos para recicladores que trabalham por ali e ainda organiza reuniões para debater arte, política e ações sociais.
“A gente precisa conversar, envolver as pessoas, para mudar a periferia, a cidade, o país”, diz ele, resumindo sua filosofia de vida e de trabalho. “As pessoas não são informadas sobre seus direitos, sobre a história do povo, e a televisão não vai ajudar nisso”, comenta a amiga Sheila Machado, ela também uma ativista, num instituto que ajuda crianças e adolescentes vítimas de violência.
Por sinal, o Griot Urbano, que funciona em antigo salão de cabeleireiro, atrai pessoas interessadas em mudanças. Geraldo Conceição Lima, amigo do lugar, tem como bandeira a preservação do Parque do Carmo, enorme área verde pública da zona leste onde ele corre e atua como guardião. Recentemente, após denunciar mais de nove meses de ausência de manutenção do parque, Lima comemorou a volta da coleta de lixo e da poda de gramas e árvores.
Quem passa em frente ao Griot costuma gastar algum tempo para contar sobre o dia e cumprimentar. Griot, por sinal, é uma palavra que define os contadores de história e poetas de comunidades africanas. Tody One vai registrando as suas nos muros da cidade. Sorridente, comunicativo, ele costuma se conter diante de elogios. “Cé loco”, despista.
ISAÍAS DALLEsheila machado.jpg
Sheila Machado: não há informação sobre direitos, sobre a história do povo, e a televisão não vai ajudar a mudar isso

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

ANITTA É FODA !!!

por Igor Penna, cineasta

Anitta, ao assumir quem é de fato, uma favelada de biquini de fita isolante e uma bunda comum, ela mexe com os piores sentimentos e preconceitos da burra classe média brasileira

O clip de Anitta é foda nas imagens, potente e perturbador. Closes poderosos que mexem em você por dentro. Seja a bunda de Anitta com celulite ou o pau sob a sunga na sua direção. Anitta joga com o fetiche, o preconceito social e de gênero de forma a se contradizerem, se reconhecerem, se negarem e se danarem. A música não tem a potência das imagens, a música não cresce, não há boas viradas, tem o refrão do “Vai Malandra” que é potente, mas a letra de fácil assimilação por ter quase nada de letra, é mais fraca do que o clip. Nisso mora o problema e como todo jogo do clip também, sua salvação e seu brilhantismo. “Vai Malandra” é praticamente tudo que se diz de importante na letra (eu não entendo inglês, então não levo em conta esta parte) do clip de Anitta. E exatamente por não ter letra seu clip não cai na literalidade onde as imagens apenas repetem o que é dito.


Alguns roteiristas dizem que todas as histórias já foram contadas, resta-nos saber reconta-las de outras formas. O clip de Anitta tem uma história simples e muitas vezes contada: A mulher pobre da favela que ascende na música e termina o clip em meio aos rappers americanos. História de colonizado né? Mas ai é que surge a originalidade do clip e as posições políticas de Anitta se mostram. Por exemplo: O clip de Pablo Vittar com outro rapper gringo e a participação de Anitta, é futurista, meio mad max no deserto, sem relação com a favela ou qualquer forma de brasilidade. Anitta podia comemorar sua inserção no mercado internacional botando todo mundo pra quebrar em meio a quinta avenida em Nova York, ou um DVD no Madson Square Garden como Ivete Sangalo.
Anitta pra dizer que se internacionalizou, volta a origem, para mostrar que aquela mulher, malandra, funkeira, com a bunda com celulites e estrias, que pegava moto taxi, descia até o chão nos bares, pegava sol na laje com biquini de fita isolante chegou ao states. Do primeiro plano, a bunda de Anitta ao último, vestida de rapper americano essa é a história. Mas volto a afirmar, como contar esta história, como ela mexe nas pessoas, como ela provocou tanto debate é que são elas. Mostra que Anitta está muito ligada ao mundo em sua volta, mostra que tem um olhar curioso e libertário, um jeito sutil e poderoso de mexer dentro das pessoas, jogando com fetiches e preconceitos.
Aliás, acho o ponto central da obra de Anitta seja a forma como ela trabalha o fetiche e o preconceito. Conceitos que possuem fronteiras tênues para todos lados. Mas ai seria uma análise maior e mais abrangente.
Voltando ao clip. Anitta, ao assumir quem é de fato, uma favelada de biquini de fita isolante e uma bunda comum, ela mexe com os piores sentimentos e preconceitos da burra classe média brasileira. Caso contrário não haveriam os comentários que dizem que ela mostrou o clichê do Brasil ou os que dizem que mostrou o Brasil que não deu certo, o pior do Brasil, a favela, com tantos lugares bonitos que o Brasil tem. Essa gente não ver a favela como Brasil, se Anitta tivesse feito o clip na Quinta Avenida… ah parceiro, a elite branca ia adorar. Seria o Brasil invadindo Nova York (com camisas amarelas da CBF, alguém duvida?). Poucos estariam se ligando nas bundas rebolando e quicando até o chão. Mas ai sim, eu a chamaria de colonizada e idiota.

Fonte: Diário Conquistense

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Paulo Freire segue como patrono da educação brasileira após derrota do Escola Sem Partido

Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federalrejeitou na manhã desta quinta-feira 14 a Sugestão Legislativa que pretendia retirar do educador recifense Paulo Freire o título de patrono da educação brasileira.
O pedido para arquivar o projeto foi feito pela senadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra. Junto da senadora durante a sessão estava Daniel Cara, como representante do Coletivo Paulo Freire por uma Educação Democrática, principal articulador na campanha pela manutenção do nome de Freire.
As Sugestões Legislativas surgem a partir de petições públicas informais, e devem ter no mínimo 20 mil assinaturas para serem acolhidas pelo Senado. O abaixo-assinado foi redigido por uma estudante de direito e membro do Escola Sem Partido, e teve amplo apoio do Movimento Brasil Livre. Se validada, ganha a força de um Projeto de Lei.
A ofensiva contra o nome e o legado de Paulo Freire provocou intensa reação na sociedade. O Coletivo lançou um manifesto pela manutenção do título ao educador, com aderência de milhares de educadores, pesquisadores, políticos, filósofos e sociedade em geral. A partir do manifesto outras ações foram articuladas, e contribuíam para que a intenção do projeto ultraconservador fosse rejeitada. Cara avaliou como “vitória a decisão da Comissão de Direitos Humanos contra o Escola Sem Partido e o obscurantismo.”
Ao final da sessão, a senadora afirmou que “só alguém que desconhece a grandiosidade da vida e da obra de Paulo freire na luta pela educação no Brasil e no mundo pode representar um recurso de maneira estupida como esse.”
Legado
Paulo Freire é um educador internacionalmente reconhecido, sendo um dos mais proeminentes nomes da Pedagogia e das Ciências Humanas. Foi laureado com 41 títulos de doutor honoris causa por universidades distribuídas por todo o mundo e intitulado professor emérito de cinco universidades, incluindo a Universidade de São Paulo (USP).
Também foi agraciado com títulos conferidos pela comunidade internacional, como o prêmio da Unesco de Educação para a Paz, em 1986. Secretário municipal de Educação entre 1989 e 1991, é ainda hoje considerado o melhor gestor educacional da história paulistana, aclamado presidente de honra da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Pedagogia do Oprimido” (1968), considerada sua obra-prima, é a terceira mais citada em toda a literatura das ciências humanas, segundo pesquisa realizada por Elliott Green, professor associado à London School of Economics.


Carol Scorce, Carta Educação

Fonte: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/12/paulo-freire-patrono-da-educacao-derrota-do-escola-sem-partido.html

O que acontece se não fizer a biometria do título eleitoral?

A biometria dos eleitores, identificação  feita por meio da impressão digital, já ocorre em diversos países no momento das votações. No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vem divulgando o cadastramento biométrico em todo o país, com a intenção de que as eleições de 2018 já ocorram com o novo sistema de identificação. Porém, diversos boatos circulam na internet e deixam os cidadãos com dúvidas sobre o assunto. É o que aconteceu com o vendedor Guilherme César, que faz sua pergunta no quadro Fala Aí desta semana:
“Olá, meu nome é Guilherme César, tenho 37 anos, sou vendedor e empreendedor. A minha dúvida é que tá rolando nas redes sociais e na internet, que era necessário que as pessoas fizessem a biometria até o dia 7 de dezembro. Gostaria de saber se isso é fato e se após esta data tem alguma multa, algum problema na hora da pessoa votar."

“Eu sou a Eliana Passarelli, coordenadora de comunicação social do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TSE-SP). Bem, Guilherme, realmente, isso é um boato, não existe esse prazo de até 7 de dezembro para fazer a biometria e nem há essa multa. A biometria no Estado de São Paulo é obrigatória em 85 cidades, cada cidade tem seu prazo, tem que procurar no nosso site. Nesses locais, o eleitor que não comparecer tem o título cancelado. Mas, por exemplo, na cidade de São Paulo ainda não é obrigatório, tem várias cidades que ainda não é obrigatório. Então, esse boato é mentiroso"

Trabalho intermitente: o filme de terror para os trabalhadores

Mais um post de facebook ganha destaque por mostrar um dos aspectos mais devastadores da Reforma Trabalhista: o trabalho intermitente. Dentre os muitos posts e denúncias que já viralizaram e que já noticiamos aqui e também aqui, por exemplo, destacamos mais este:
“Faxineira ganhando mil reais por mês para fazer limpeza no prédio da empresa, uma vez por semana, recebeu uma proposta espetacular com o prêmio de continuar com o emprego. Trabalho intermitente, a R$ 4,50 a hora. Como ela faz a limpeza em 5 horas, o salário dela ficará em torno de R$ 90,00. Melhor dar um tiro na cara de quem aprovou esta lei, ir para a cadeia e garantir 3 refeições por dia, coisa que esses 90 reais não garante.”
O discurso dos grandes meios de comunicação, porta-vozes eficientes dos patrões de todo o país, ainda pinta a aprovação da Reforma Trabalhista como medida necessária para gerar mais empregos, “modernizando” as relações de trabalho afirmando que não tocariam diretamente em direitos mais emblemáticos da CLT como férias e 13º salário, por exemplo.
No entanto, eis que a letra miúda do trabalho intermitente, introduzido como apenas mais uma modalidade de relação de trabalho veio para fazer terra arrasada dos direitos mais elementares e transformar em letra morta o direito à previdência, férias, 13º, descanso remunerado. Não à toa, a “modalidade” se transformou na nova queridinha entre os patrões no país.
Maquiando as estatísticas de desemprego, o pagamento por hora e somente quando for requisitado é a principal forma de desumanizar o trabalhador, reduzindo-o agora oficialmente apenas à tarefa que precisa cumprir. Como se ele não precisasse se alimentar, ter onde morar, ter o que vestir, sustentar uma família, ter direito ao lazer. Nenhuma dessas necessidades existe para o trabalho intermitente, este termina de por a pá de cal sobre direitos mais elementares e diretamente tratar como coisa quem trabalha. Ou seja, mais escravidão, mais miséria para a vida de quem faz o país girar.
Derrotar o governo golpista e suas reformas. Na Argentina os trabalhadores apontam o caminho
Na Argentina, seja nas verdadeiras batalhas campais travadas na rua contra a Reforma da Previdência de Macri que a tentar impor através da repressão, e na resistência aguerrida dos trabalhadores de Pepsico que em defesa dos seus empregos conseguiram impor obstáculos às tentativas de Macri de também aprovar uma Reforma Trabalhista, os trabalhadores argentinos não só dão exemplo como também podem se transformar um ponto de apoio fundamental para as lutas necessárias aqui no Brasil e, porque não, em todo o continente.
A Argentina mostra como é possível sim retomar aqui no Brasil o caminho para derrotar o golpista Temer, sua corja e suas reformas. E a primeira tarefa fundamental nesse sentido é tomar nas nossas mãos as ferramentas que hoje estão presas nas mãos das centrais sindicais, seja da Força Sindical, diretamente aliada de Temer, seja da CUT e CTB que com tanta traição e corpo mole atuam como cúmplices das medidas golpistas contra os nossos direitos.
Derrubar as reformas no Brasil e na Argentina! Nossas vidas valem mais que os lucros deles!

 Fonte: http://www.esquerdadiario.com.br/Trabalho-intermitente-o-filme-de-terror-para-os-trabalhadores

Temer veta projeto sobre negociação coletiva de servidor e irrita até aliados

São Paulo – Aparente avanço institucional, raro no atual momento, o direito de negociação coletiva dos servidores públicos não resistiu à passagem pelo Palácio do Planalto. Michel Temer vetou integralmente o Projeto de Lei 3.831/2015 (e 397/15 no Senado), que "estabelece normas gerais para a negociação coletiva na administração pública direta, nas autarquias e nas fundações públicas dos poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios". O governo alegou inconstitucionalidade, argumento "esdrúxulo", segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). A decisão irritou inclusive a base aliada.
"A aprovação do projeto de lei foi o único avanço para os servidores, desde o impeachment de Dilma: sentar-se à mesa para negociar as demandas, antes de qualquer iniciativa de greve ou paralisação, constitui-se sem dúvida numa demonstração de maturidade das partes envolvidas no processo negocial. Mas o atual governo preferiu a saída mais fácil e cômoda", afirma o Diap. O projeto havia chegado para sanção presidencial em 27 de novembro. Representantes dos servidores esperavam veto em alguns itens, mas não na íntegra.
No veto, publicado na edição de hoje (18) no Diário Oficial da União, Temer alegou que a medida representava invasão de competência legislativa de estados, municípios e do Distrito Federal, "não cabendo à União editar pretensa normal geral sobre negociação coletiva". O Diap rebate o argumento, lembrando que em 2010 o Brasil ratificou a Convenção 151, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre direito de sindicalização e relações do trabalho na administração pública.
Agora, o esforço precisa ser direcionado para a derrubada do veto no Congresso. O Diap lembra que, para isso, é preciso obter maioria absoluta nas duas Casas (41 votos no Senado e 257  na Câmara). 
A regulamentação da negociação coletiva e do direito de greve no serviço público são demandas do funcionalismo que vêm desde a Constituição de 1988. O projeto prevê que a negociação coletiva seja regra permanente, legal, de solução de conflitos. 
Há também uma questão em aberto sobre o direito de greve. Há pouco mais de um ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu aplicar a Lei 7.783 (Lei de Greve para o setor privado, de 1989) na área pública, determinando que a administração pode descontar dias parados por greve. Segundo aquela decisão, o desconto não poderá ser aplicado se ficar demonstrado que a greve ocorreu por "conduta ilícita" do poder público.
Em setembro, ao falar à RBA, o secretário-adjunto de Relações do Trabalho da CUT e funcionário público federal Pedro Armengol já previa dificuldades em relação ao projeto de negociação coletiva. "Com a realidade que estamos vivendo no país, acho muito difícil sancionar esse projeto", afirmou na ocasião. "Tenho dúvidas se prefeitos e governadores vão assistir passivamente a essa questão." Ele lembrava que "99,9%" das greves no funcionalismo são, basicamente, para abrir negociação.
Em rede social, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), autor do projeto, criticou "mais um equívoco" do governo que, segundo ele, "se enfraquece a cada dia e que demonstra, nesse caso, seu descaso e descompromisso com o servidor público". Ele lamentou que o mesmo Executivo supostamente defensor da negociação coletiva no setor privado, via "reforma" trabalhista, agora se negue a dialogar com o funcionalismo.

O tucano pediu apoio de senadores e deputados para trabalhar, "de forma firme e vigorosa", pela derrubada do veto.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Advogado é ameaçado: “Negro, comunista, macumbeiro, estamos de olho em você”


Em Santa Catarina, advogado negro é alvo de ataques racistas com símbolo da Ku Klux Klan. Perplexo, Marco Antonio André resolveu publicar um desabafo nas redes sociais

advogado racismo ku klux klan
Ao sair de casa para colocar o lixo na rua no último domingo, o advogado Marco Antonio André, 40, residente de Blumenau (SC), foi surpreendido com um cartaz que lhe causou perplexidade.
“Negro, comunista, antifascista e macumbeiro. Estamos de olho em você.” A imagem continha ainda o símbolo da Ku Klux Klan e uma ilustração de um membro da seita racista norte-americana apontando para o leitor.
Negro, militante da causa negra e praticante de religiões de matrizes africanas, André é, claramente, o alvo das ofensas. Para não deixar dúvidas das intenções, os agressores colaram os cartazes apenas no poste e na porta da casa dele.
Marco, que diz ser “mais adepto” de Martin Luther King do que de Malcolm X, afirma já ter sido alvo de ataques racistas diversas vezes.
“Todo ano eu desfilo [no Oktoberfest] com os trajes típicos alemães e em todo desfile há problemas, gente que me ofende. Já jogaram copo de chopp na minha cabeça”, relatou o advogado em entrevista ao portal UOL.
A princípio, Marco disse que não publicizaria o caso, mas depois resolveu divulgar o cartaz em suas redes sociais em forma de desabafo. “É uma oportunidade de trazer este assunto à tona e agregar cada vez mais pessoas à discussão”, disse, em entrevista à CartaCapital.
Marco acredita também ser importante realizar um boletim de ocorrência, apesar de não acreditar que de fato alguém será punido. “Eu até tenho alguma esperança de penalização, mas é muito mais para registro criminal e monitoramento do que para identificar o autor em si”.

Extremismo

“Há um discurso de ódio no Brasil e no mundo hoje, um discurso vigorando tanto da extrema esquerda quanto da extrema direita. Um dos meus amigos escreveu que a Caixa de Pandora foi aberta e eu acho que é isso”, diz o advogado.
Neto de uma escrava, Marco conta que no momento do nascimento de seu pai sua avó ainda não havia conquistado a alforria. Apesar da forte ancestralidade, foi somente quando se mudou para Blumenau teve seu encontro com as religiões de matriz africana.

Amor

Apesar das agressões, Marco pretende mais uma vez se vestir de alemão para desfilar na tradicional parada da Oktoberfest. Perguntado recomendaria que comunistas, negros e praticantes de religiões afro visitassem a cidade durante o festival, o advogado ficou em silêncio, riu, pensou, e disse:
“Não vou jogar contra minha cidade. É uma festa importante para a economia da cidade. Talvez o coletivo diga que devêssemos boicotar. Mas sou contra. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Venham para a festa sim. Venham de peito aberto, para se divertir. Tragam amor. Minha religião prega o amor ao próximo, não posso ir na contramão.”

Desabafo

Abaixo, a íntegra do desabafo de Marco nas redes:
Hoje pela manhã os postes da minha rua e a porta da minha casa amanheceram com este aviso.
Todos que me conhecem, sabem o quanto luto para que diferenças sejam respeitadas.
Ser do Candomblé, além de ser um ato de fé, é cultuar meus ancestrais Africanos.
Quando me coloco a favor dos menos favorecidos e luto pelos direitos e igualdade de TODOS, não quero excluir, quero agregar.
Se minha luta contra o fascismo é incômoda para alguns, o problema não está em mim.
Continuarei na minha luta, por uma sociedade justa e igualitária.
Continuarei firme na batalha junto ao NEAB, pois é através da EDUCAÇÃO que mudaremos muita coisa.
Farei, agora mais do que nunca, parte da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB, pois inclusive em Blumenau, há muitas histórias que não foram contadas.
Obrigado a todos pelas mensagens de apoio, isso só mostra que o autor da faceta é minoria.